segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

eu esfriei

Eu esfriei. Diria que congelei. Aquela antiga menina meiga não existe mais. Era forte e inabalável. Não era mais alvo de risos e apelidos do tipo ingênua, boba, idiota ou até mesmo iludida. Magoava a quem um dia magoara-a. Engolia a dor e seguia em frente como sempre fazia. Fez se esquecer da dor e todos os sentimentos vazios e tornei me oca. Literalmente oca. Agora quem tem o poder sobre as mãos sou eu. Não acreditava mais em simples palavras, precisariam de belas desculpas para persuadir , sorrisos amarelados já não preenchiam mais o meu dia, fingir que estava bem já não era mais preciso. Eu estava cansada de sempre, magoada pelas mesmas pessoas, de ter um coração quebrado. Crueldade, não é justo. Tinha dado uma chance a mim própria, de me olhar pra dentro e perceber que algumas coisas tinham que mudar, que era preciso dar um basta em toda aquela tristeza. Cansei de ser machucada. Deglutia minhas dores no café da manhã com um vasto sorriso estampado no rosto angelical e olhos negros entupidos de delineador. Fitava todos á minha volta com um olhar amargo e impassível, fiz um iceberg ambulante, uma rocha feita de carne e osso. Não adiantava querer mudar-me de uma hora para outra, não obedecia regras, fazia minha própria lei sendo guiada pelo ódio, rancor e o orgulho ferido caminhando de mãos dadas pelo parque. Quando abria boca para falar escorria o veneno de minha acidez. Era limão dentro dos olhos debaixo do sol ao meio-dia. Era amarga. Era café sem açúcar. Do doce que eu era tornei me amargura, molhei coração e deixei de molho até todo o açúcar se dissolver totalmente na água, temperei com o limão e o expôs ao sol, assim se fez o novo coração azedo e manchado, assim se sucedeu o meu novo eu, doída, amarga e fria. Passado muitas horas , pensando que tinha mudado acordei , o meu novo eu nao tinha passado de um sonho , mas muito sinceramente não gostaria de ter ficado com um coração gelado. 

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